sábado, 8 de janeiro de 2011

As Férias



De volta ao ar Jaraguaense, aproveito para postar um breve diário que fui escrevendo na viagem das férias.


PRIMEIRO, DIA 1


Quando saímos faltava pouco para ver o sorriso da Dilma na sua posse como primeira mulher Presidente(a) eleita do Brasil. O carro já estava carregado, não tínhamos lugar para ficar, apenas uma barraca e colchonetes para acalentar o sono. E, ao som de Dexler, partimos em direção a Angelina. No caminho, ainda em São João Batista, uma placa anunciando uma cachoeira.

Segundos entre sim e não até que o espírito aventureiro respondeu e partimos numa estrada de barro, com o pó melecando os cabelos e a ansiedade tomando conta de preencher o silêncio.
A surpresa veio pouco depois, uma cachoeira há poucos quilômetros da estada principal anunciando o verão. Turistas exibindo suas manobras nas águas doces e geladas da Cachoeira Fernandes.
E Angelina só chegou depois que passamos por debaixo da árvore mãe, aquela que se deixa exibir oferecendo passagem por debaixo de suas ancas barbudas. E depois da Represa Garcia, uma multidão de águas aprisionadas.
Já em Angelina, o primeiro lugar a receber nossos pés foi a Gruta do Santuário de Angelina, lugar tranqüilo de subida lenta e minuciosa que culmina com a pequena cachoeira que enfeita o antro das graças alcançadas.
E Angelina não se deixou despedir, não antes de passarmos por uma cachoeira de beira de estrada, assim à mostra, sem precisar de escaladas, longas estradas, nada. Uma surpresa gratuita antes de seguir viagem.
Até então confortados, era chegada a hora de por as mãos na massa, de procurar lugar pra estacionar nossos olhos. E por uma estrada esburacada, que parecia infinita, aventuramo-nos a encontrar local para passar a noite. Depois de muito dirigir, aparece uma casa para pedir informação e um local para dormir logo à frente.
O sol demorou a ir dormir, nos presenteando com um céu claro até mais tarde, depois foi a fogueira e os vaga lumes que iluminaram o lar e nos acompanharam no jogo do UNO. Pouco antes, jantar de lingüiça na brasa e risadas em volta da fogueira. Dormimos ao som de sapos, grilos e bichos ainda não decifrados.

Dia 2
Almoço digno no Hotel das Freiras em Angelina, Blumengarten Haus, de lá partimos rumo a Rancho Queimado, já preocupados com o local para dormir e para o banho. O palácio do nosso soninho foi sugerido por dois senhores que encontramos na estrada, e para lá partimos: Morro da Boa Vista.
O local tem nome adequado, a vista é até mesmo mais que boa, é bela, é encantadora. O verde desliza por uma imensidão de vales. Foi nesta noite que a chuva nos visitou, e os casacos e calças intocados nos fundos das mochilas ganharam uso. Às vezes, a barraca quase cedia aos encantos do vento, mas manteve-se firme.
A chuva resultou em um jantar de bolachas e bolos, nada de fogueira e comidinha quente. Apenas uma noite gelada ao som de todos os tipos de sapos e pererecas existentes. A fogueira armada ficou para os próximos visitantes.

Dia 3
Seguimos para Alfredo Wagner, onde as hortências, de mãos dadas, beijam a estrada por onde se passa. O verde que salta de ambos os lados faz esquecer prédios, máquinas, fumaça, barulho. Demos passos largos com os olhos e não nos cansamos.
Na churrascaria Boeing, o merecido almoço e, mais ainda, a conquista da manhã: o merecido banho, afinal nem insetos nos desejariam por perto. Chuveiro de beira de estrada, mas amém.
Havíamos nos programado para ver o Museu de Arqueologia, mas ao chegar lá, demos com o nariz na porta, a sorte foi encontrar uma placa que indicava cachoeira por perto e seguimos com uma pedida de informação aqui e outra ali, até chegarmos ao local mais encantador da viagem até o momento: a vila onde vive o seu Dilo e seus familiares.
Antes de nos apaixonar por aquele vilarejo, visitamos a cachoeira. Um privilégio, pois parece ser um lugar secreto do tipo que só aqueles que estão munidos de certa divindade podem ver. E vimos, ficamos extasiados, estáticos. Paramos em cada curva para tocar naquelas águas, as pequenas nascentes nos recarregando, abençoando.
Talvez, só depois que a agitação de montar barraca, de pensar no jantar, de espantar bichos, é que realmente tenhamos nos deparado com a beleza daquele lugar. A simplicidade, as pequenas histórias das vacas, dos porquinhos, dos patinhos.
Passamos o dia fazendo pactos com o verde, com a magia do ar, com os pica paus e os outros milhões de passarinhos que pareciam cantar especialmente para nós.
A noite chegou gorda, um jantar farto com os tomates usurpados de uma plantação de Angelina, com os ovos gentilmente doados pela esposa do seu Dilo e com os Cup Noodles que, a esta altura, já imploravam para serem saciados.

Dia 4
Dia longo, sem almoço, dia da bunda achatada e das mil paradas. Urubici nos seduzindo, primeiro com as imagens nas pedras, que tivemos de conferir e tentar traduzir. Pela estrada, os pés de maçã nos fazendo voltar a ser crianças. Depois veio o Mirante, parada para fotos. Seguindo, encontramos uns malucos de bicicleta que estavam, como nós, procurando onde enfiar os olhos, e achamos, a Cascata do Avencal, os três reais mais bem pagos de Urubici.
Depois de tanto admirar as águas era chegada a hora de molhar os pés e o fizemos na cascata que fica na Churrascaria da Cascata, as fotos foram muitas, nos perdemos em meio as águas.
O destino escolhido era o Mirante da Serra do Rio do Rastro, mas ficou só na vontade, a neblina tapou nossos anseios e admiramos apenas o branco. Na descida da Serra pudemos conferir as montanhas gigantescas e paramos apenas por conta de um susto: barulhinho e cheiro estranhos, malditos que nos trouxeram insegurança por um tempo. Em Lauro Muller descobrimos que não era nada grave.
Sem destino definido depois da serra, seguimos para Orleans onde conferimos o Paredão. As palavras para definir são poucas, o paredão é pouco. Esperávamos mais, o trabalho feito nas pedras é glorioso, mas nos deixou com gostinho de querer mais.
De lá seguimos para Laguna. O trânsito lotado, mas valeu a pena, encontramos um camping bacana, um lugar descente para nosso merecido banho. As barracas foram montadas num instante e seguimos para ver as pedras, na Praia da Gi, e valeu todo e qualquer obstáculo, inclusive as rosetas bandidas perfurando nossos pés no meio do caminho. Chegamos enfim a Pedra do Frade. A natureza é sedutora, mas complexa.
Antes de voltarmos para o camping, demos uma breve parada na Bica da Carioca para angariar água e refrescar nossa sede. Depois disso, nos banhamos demoradamente no chuveiro do camping. O almoço jantar que aconteceu logo depois valeu a pena, comidinha caseira com direito a peixe e camarão.

ÚLTIMO DIA, Dia 5
O sol mal se havia nascido no horizonte e já estávamos de pé, pegamos a balsa e fomos conferir o Farol de Santa Marta. A subida rendeu suor, mas o vento lá de cima secou nossos rostos facilmente e respiramos o ar que o mar mandou de presente.
Por fim, antes de pegar a balsa novamente, conferimos a Praia da Tereza, verdadeiro recanto, praia pequenina com sabor de verão em família.
Nossa primeira investida por Santa Catarina foi uma verdadeira salada com direito a cebola, tomate, abóbora, repolho, pepino, batata doce, milho e alface, sem contar na sobremesa de salada de frutas: morango, pêra, banana, limão, laranja, uva e maçã.
Vimos vales, montanhas, pedras, areia, barro, praias. Cidades pequenas, cidades turísticas. Uma variedade incontável de vegetação, árvores de todos os tamanhos e tipos.
Não faltou nem mesmo a trilha sonora, coruja, gavião, pica pau, sabiá, João de barro, canário, gaivota, anu, chupim, sapos, pererecas, bois, vacas, grilos, patos intercalados pelos bons e velhos Beatles.
Na volta, uma parada para o almoço em Itapirubá. Seguindo por Imbituba na praia da Vila, e demos uma parada breve em Tijucas para abastecer.
Voltamos cansados , mas não o suficiente para deixar de contar os fuscas, kombis e brasílias que encontramos no caminho.
Quase ao terminar de escrever estas linhas, olhei pela janela pensando em como terminar este diário de bordo e vi o Supermercado Archer. Já estamos em Brusque, linha end da nossa trajetória por Santa Catarina.

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