domingo, 6 de setembro de 2009

1º Curso de Formação de Escritores do SESC

Rascunhos - 04 e 05/09


* Beijava as camisas sujas de suor e esfregava aos sábados, pela manhã, as marcas de batom próximas ao zíper da calça. Nos domingos, levava as crianças ao parque e dizia a vizinha que era a mulher mais feliz da terra.


* Os lápis de cor pintaram suas vísceras de preto e branco. Enquanto gemiam uma música de ninar.

* Os números faziam massagens nas costas das letras.
Elas reclamavam de dor de cabeça.

* Na fila, já com a ficha na mão, conversava com uma senhora respeito do clima.
Quando sua vez chegou, pediu a ela para segurar a vaga. Precisava ir ao banheiro.

* Escorria-lhe pelo rosto gotas salgadas que ele enxugava manchando0se de graxa.
Os parafusos estavam mais apertados naquela tarde ele e ficou tonto.
Antes de cair no chão fez jorrar de sua boca uma espécie de óleo e a máquina nunca mais pifou.

* As borboletas foram-se embora assim que meu filho nasceu. Com elas, minha amada e suas primaveras.
Depois de dois dias, decidi acabar com o bebê. Matei-o, enchendo-o de espinhos.
Foi ele quem destruiu meu jardim.

* Fez um sinal com a cabeça e deitou-se na cama esperando a coberta.
Antes de dormir, os lábios ficaram molhados e o corpo gerou uma enchente.

* Eu tinha um trabalho agendado para às oito. Lavei minhas ferramentas e sentia-me em nostalgia pela espera.
Não cheguei a tempo, a umidade me assustou, mas gritei meu nome para registrar o que sabia fazer.

* Foi importado de outro estado. Tamanho quarenta e cinco, diferente, cadarços coloridos amarravam-lhe os cabelos. Passeava muito, embora à noite, via TV junto a seu irmão.
Acordava cedo, trabalhava muito, sentia o cheiro de óleo e leva choques esporadicamente.
Seu tempo dividia-se entre o trabalho, a fofoca o estresse no trânsito e os passeios nos morros próximos.
Acumulava energia para ir ao banco e juntava dinheiro para exibir-se.
Seu colorido incomodava, ficava empeirado, às vezes, não conseguia habituar-se com as ordens que recebia.
Quando ficou velho trocou seus coloridos por cadarços cinzas.
Nunca deixou de ser imigrante, reclamava, mas ficou velho e já tinha sua caixa próxima e uma na praia.

* Um homem entra num hotel e sobe as escadas até uma certa altura.
Lembra que esqueceu a chave do quarto e volta com pressa ao estacionamento.
No trajeto pensa na namorada e lembra que tem de comprar um presente de aniversário a ela.
Chega no carro, pega o dinheiro e fecha a porta com força.
Dá o seu segundo boa tarde a recepcionista e já na metade do trajeto lembra da chave.
Chateado, volta, relembra da namorada e pensa que a loja já estava fechada.
Sente dor de cabeça e ao chegar no carro pega um remédio.
Volta ao hotel, seu terceiro boa tarde, lembra que esqueceu de algo.
Pede uma cópia da chave do quarto.

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