terça-feira, 12 de maio de 2020

O ano em que a morte não saiu de férias



Ouvi dizer que quando a morte se aproxima, quando toca-lhe o cenho e se despede logo mais, como que dizendo que voltará depois pra te reencontrar, você ganha uma oportunidade única de recomeçar. Dizem que se nasce de novo. Mas olha a morte nunca chegou perto de mim. Nunca senti seu hálito, cheiro ou vi sua sombra entre as frestas da janela. Ela me achava boba, de sabor ruim. Ela e o tempo fizeram um pacto de me levar velhinha. Porque eu precisava deixar minha carne mais saborosa, meus órgãos putrefatos e minha mente mais sagaz. Eu sabia que um dia iria encontrá-la, que íamos nos cumprimentar, olhar de canto de olho. Fazer um aceno rápido e dizer até a próxima. Acontece que ela e o tempo mudaram de ideia. Completei 35 e ela chegou. Não deu tempo de fazer as malas, ficar sagaz ou apodrecer. Partimos. Eu e ela. O tempo ficou consolando os demais.

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